quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Salvador: Paripe




SALVADOR

                   
      

                               SALVADOR: VOCÊ SABE COMO TUDO COMEÇOU?

A mais antiga cidade do Brasil foi fundada por Thomé de Souza em 1549. Mas, quando este chegou, os “índios” já estavam. Eram os Tupinambás, Tupiniquins e os Tapuias.



                                                            VOCÊ SABIA?
Salvador é situada entre o mar e as colinas da Baía de Todos os Santos e possui organização semelhante às cidades do Porto e Lisboa. Salvador possui um forte caráter defensivo.

                        'Baía de Todos os Santos e cidade de Salvador', Atlas Arnoldus Montanus
Baía de Todos os Santos e cidade de Salvador


  VOCÊ SABE QUAL FOI A FINALIDADE DA FUNDAÇÃO DE SALVADOR?

Foi fundada para defesa da costa, o que possibilitou a continuidade da existência do Brasil. Além disso, foi bastante relevante a força da cidade e do seu porto que tinha a capacidade de comportar e ancorar na Baía de Todos os Santos toda marinha de guerra do mundo.

                     


E SOBRE A CARREIRA DAS ÍNDIAS, VOCÊ JÁ OUVIU FALAR?
Salvador tornou-se centro dinâmico da hinterlândia, ou seja, área econômica e geográfica que atraia cargas e descargas trazidas de navios de todo Atlântico Sul. Salvador era centro politico administrativo e polo econômico do ciclo da cana-de-açúcar, tabaco, cachaça, álcool, madeiras, algodão e centro exportador e importador de escravos e produtos manufaturados europeus.

Era passagem obrigatória de embarcações do comércio vindas da África, Índia e da China para o Brasil. A cidade de Salvador era o porto mais importante do ponto de vista comercial e de localização estratégica em relação às correntes marinhas e regime de ventos, o que lhe dava vantagens e favorecia a transação do tráfico de navios e escravos.
                        
Quando navios das carreiras das Índias, baixavam velas no Porto de Salvador, isso representava excelentes ocasiões para o comércio, troca de alimentos, produtos e escravos, importação e exportação.. O que transformou Salvador num centro de distribuição de mercadorias para todo Atlântico.



                                                                     PARIPE

             
PRAIA DE TUBARÃO

                                     E O QUE PARIPE TEM HAVER COM ISSO?

Antes da fundação de Salvador, Paripe já existia. Era um julgado ou povoado de administração independente que foi anexada judicialmente à Salvador bem depois de sua fundação.
Paripe é um nome de origem tupi, que significa cercado de peixe, um aparelho feito de varas pelos indígenas. Foi durante o governo de Tomé de Souza e Duarte Costa que avistaram os primeiros exploradores da região de Paripe: os índios.

                      
Historicamente, o bairro era local de veraneios de famílias tradicionais que construíram chácaras e fazendas nas praias de Tubarão e São Tomé. Devido à fertilidade de suas terras, a produção de frutas e verduras, bem como a pescaria e coleta de mariscos ajudavam no abastecimento de mercadorias para a feira de água de meninos, visando a movimentação do Porto de Salvador.O bairro teve participação histórica nos engenhos de cana-de-açúcar em Salvador, com registros de engenhos do século XVI, o engenho de açúcar de Santa Cruz de Torres.

                                                                PARIPE E SUA FÉ

São tomé de Paripe foi o local onde os tupinambás diziam ter visto SUMÉ, seu Deus. Os Jesuítas, que não eram, nada bobos, aproveitaram para importar o santo católico, São Tomé, catequizando toda a tribo que habitava Tubarão e ergueram umas das mais antigas igrejas na colina de Paripe, Nossa Senhora do Ó.
                                 IGREJA Paripe. Uma em louvor a Nossa Senhora do Ó e a outra a São Thomé, esta última construída pelos jesuítas no século XVI. É uma das mais antigas igrejas de Salvador.


                       INDUSTRIALIZAÇÃO, EM PARIPE? COMO ASSIM?
                         
A produção industrial de Paripe destacou-se com a tradicional fábrica de cimentos Salvador e Aratu, maiores fábricas de cimento do Nordeste e a indústria de beneficiamento de mamona que produziam matérias primas e produtos para várias indústrias na Bahia. Atualmente tanto a fábrica da Cocisa (Cimento Salvador), bem como a indústria de mamona estão desativadas.


                                         PARIPE TINHA  QUILOMBO?
                                         

Na época da colonização, foram construídos aldeamentos no Quilombo do Tororó, há mais de 400 anos, em São Tomé de Paripe, que era formado por escravos pescadores que após a escravatura passaram a pescar e vender peixes para os senhores e continuaram habitando o local.

                           O QUE ACONTECEU COM PARIPE?

                     Trem: Paripe-Calçada

Com o processo de industrialização, construção de ferrovias e descoberta de Petróleo, Paripe e outros bairros do subúrbio ferroviário passam por mudanças, resultando no processo de povoamento e aglomerações diretamente relacionadas com as atividades da Petrobras nos anos de 1950. Além disso, a Companhia de Cimento Salvador (COCISA) em Paripe e a instalação a partir de 1960 do Centro Industrial de Aratu em Aratu e o Polo Petroquímico em Camaçari, impulsionaram movimentos migratórios e aglomerações das áreas periféricas, de pessoas vindas do interior em busca de oportunidades de trabalho.



                        
                                                    Praça de Paripe


                        
                                          Orla de Tubarão (Paripe)


 Praia de São Tomé de Paripe


Entrevistas sobre Paripe no contexto histórico de Salvador

1° Entrevistado: Jairo Lima

1-Quando passou a morar em Paripe e porque?

Sou natural de Serrinha e vim morar em Salvador por conta do meu pai que veio para cá a trabalho. Ele começou a trabalhar na Sandu (Posto de saúde no barbalho). Quando chegamos em Salvador, primeiro moramos na Lapinha em 1956, depois em Periperi em 1959 e, por fim, em Paripe em 1961”.

2-Como era Paripe nessa época?

Quando cheguei, Paripe era uma fazenda já loteada. Nada de asfalto nem ônibus, o transporte era por meio do trem. A diversão era o campo de futebol e um cinema. E existia igrejas históricas em Paripe e em São Tomé”.

3-Em relação a plantação, pesca e sobrevivência, o que tem a dizer?

Paripe sempre teve terras férteis. Era comum os moradores nos terrenos ou quintais de suas casas cultivarem alimentos que podiam ser vendidos para os mercados ou serem utilizados na própria alimentação familiar. Além disso, a grande área marítima possibilitava o livre acesso para catação de caranguejos, siris, guaiamus e outros frutos do mar”.

4-O que você sabe sobre as chácaras existentes em Paripe?

Por muito tempo essas chácaras eram locais de veraneios de famílias nobres. Com o tempo foram sendo vendidas para empresas ou indústrias como por exemplo, a de líquido carbônico. Empresários como Barreto de Araújo, cediam o espaço das chácaras nos fins de semanas e feriados permitindo que funcionários e moradores usassem o espaço para jogar bola e recreação de um modo geral”.

5-Quais algumas mudanças você presenciou no bairro de Paripe?

Foram muitas. Vi a chegada da primeira linha de transporte do bairro, a Ipiranga, vi também a pavimentação, asfaltamento, crescimento do comércio e chegada de indústrias”.

6-E sobre essas indústrias o que tem a dizer?

Quando cheguei em Paripe já existia a REZEK posteriormente conhecida como IMBASA, Indústria de Mamona da Bahia, localizada na praia de Paripe, por sinal foi lá o meu primeiro emprego. O meu segundo emprego foi numa indústria metalúrgica também em Paripe. O terceiro, foi na Marinha da Base Naval de São Tomé de Paripe. Posteriormente trabalhei na fábrica Cimento Aratu em Aratu o que possibilitou mais tarde trabalhar na fábrica Cimento Salvador em Paripe conhecida como COCISA.
Tanto a indústria de Mamona como a COCISA estão desativadas a muito tempo, mas até hoje são lembradas e os seus nomes passaram a ser referências de áreas da região”.


2° Entrevistado: Dinorá Alves

1-Quando passou a morar em Paripe e porque?

Passei a morar em Paripe em dezembro de 1964. Minha família morava antes no bairro do Uruguai em casa de aluguel e em 64 conseguimos comprar em Paripe um lote de terreno da família João Martins onde construímos uma casa”.

2-Como era Paripe nessa época?

Paripe era um lugar tranquilo. Só existiam estradas de barro, como a escola de menores. Para ir à cidade, só de trem ou veículo próprio pela BR, já que ainda não tinha a avenida suburbana. Quando havia greve de trem só era possível voltar para casa com carros clandestinos de lotação.
Lembro-me também das igrejas em Paripe e em São Tomé, que são muito antigas e existia bem antes da minha existência. Mas tinha coisas positivas como por exemplo, o cinema que era um ponto importante do bairro”.

3-Em relação a plantação, pesca e sobrevivência, o que tem a dizer?

A maioria das frutas e legumes que abastecia a cidade eram plantados em bairros vizinhos como Mapele, Aratu e Ilha de maré. Entretanto muitos moradores do bairro em seus amplos quintais plantavam variedades de alimentos e vendiam para mercadinhos ou para feirantes locais ou de outros bairros. Minha mãe por exemplo, plantava cana, abóbora, feijão e crava galinhas. Havia também pesqueiros, marisqueiros na Praia de Paripe, Tubarão, São Tomé e Ilha de Maré.”

4-O que você sabe sobre as chácaras existentes em Paripe?

As chácaras eram na realidade, fazendas. Alguns proprietários foram; Sr. Lídio, Manoel Pinto, João Martins e Antônio Ganger. Com o tempo eles lotearam essas fazendas e o que sobrou virou chácaras, algumas delas ainda existem na praia de Tubarão”.

5-Quais algumas mudanças você presenciou no bairro de Paripe?

A mudança mais importante que presenciei foi a construção da avenida suburbana que facilitou a vida de todos, já que antes o acesso era restrito ao trem e pela BR. Também o hospital Caribé durante muito tempo fez a diferença. E mais recentemente, a chegada de redes bancarias e comerciais importantes”.

6-E sobre as indústrias, o que tem a dizer?

Durante muito tempo, Paripe contou com a REZEK, indústria de mamona da Bahia. Também com a fábrica de carbono e a Olaria – fábrica de blocos.

Entrevistas X Contexto de Salvador

É evidente que as respostas dos entrevistados se harmonizam com o contexto histórico da cidade de Salvador. Foi possível comprovar que o bairro de Paripe era um local usado por nobres para veraneio, e que estes se aproveitavam para explorar os índios que já viviam por ali e novos moradores que chegavam a procura de habitação e emprego nas indústrias que foram surgindo na região. As plantações, pesca e mariscagem também citadas por ambos entrevistados, demonstram a cultura e a produção da cidade como abastecedora de diversas regiões.
Além disso, as igrejas em Paripe e São Tomé, também mencionadas pelos entrevistados, são provas vivas da imposição religiosa a que os índios foram submetidos.

E por fim os entrevistados demonstraram por meio de suas falas que a ferrovia e a construção de estradas como a suburbana, passaram a ligar Paripe, antes povoado independente, a toda a cidade de Salvador.